15.10.07

crítica.







Josef (Tim Robbins) é vítima de um acidente numa plataforma petrolífera. Hannah (Sarah Polley) oferece-se para o tratar. Dois desconhecidos, um do outro e do espectador, feridos por dentro e por fora, encontram-se, talvez para "começar uma nova vida juntos". É a história desta intimidade que nos conta a realizadora e guionista catalã Isabel Coixet em "A Vida Secreta das Palavras".

O filme é um murro no estômago do espectador, um desmanchar de todas as vulgares histórias de amor, um grito poético e panfletário contra a guerra, mostrando que a esperança não morre. Os diálogos são ternos e bem dispostos, apesar de escassos. Não há música - a essência da comunicação entre Josef e Hannah está para além de artifícios.

"A Vida Secreta das Palavras" vive da última capacidade de um público anestesiado perante a violência gratuíta que pulula pela indústria audiovisual de se comover, de perceber o que há de mais profundamente humano na sociedade e nas pessoas que nos rodeiam. É lirismo sem condescendência.

Destaque para as magníficas interpretações da actriz canadidana Sarah Polley, que enche o ecrã com a assombrosa Hannah, e para um infantil, comovente Tim Robbins, que promete "aprender a nadar" nos dias em que a tristeza de Hannah o pode inundar.

O filme, quarta longa metragem de Coixet (depois dos bem sucedidos "Confissões de um Apaixonado" (1996) e "Minha Vida Sem Mim" (2003)), conta com a produção da El Deseo, de Pedro Almodovar e é narrado em inglês. Depois de vencer a edição deste ano dos prémios Goya, o galardão mais importante do cinema espanhol, "A Vida Secreta das Palvaras" estreou em solo português na passada semana.

Também merece destaque a belíssima trilha sonora de A Vida Secreta das Palavras, que funciona muito bem para envolver o espectador na solidão de seus personagens. Isolados do mundo – tanto geograficamente quanto nos sentimentos -, eles sofrem e buscam, cada um à sua maneira, encontrar uma saída, mesmo que momentânea.

top 2 best songs:

"Coming Back Down to Earth"
por The real tuesday

"Hope There's Someone"

por Antony Hegarty (as Antony) and the Johnsons


segunda (15) à quinta (18) no multiplex uci ribeiro cinema de arte
às 19:30.

boa semana.

13.10.07

o devir dos tempos (...)

sinto a brisa indo para bem longe de mim
de encontro e ao desencontro de dois corpos
que já não sabem o que são
do porque e das respostas postas à tapa
de corpo nu, um afago então
me conformarei assim
encontro-me constatemente inconstante
dentro de entrelinhas , avisto o subjetivo
de não se saber aonde ir
a melancolia toma outro rumo junto da conformação
já não a sinto
já não a quero
em mim.

2.10.07

fragmentos do dia (...)












sem photoshop, as fotos têm seu real significado, desmascarado.

boa semana

poemeto azedo escrito n'outros tempos (...)







Hoje, folhas azedas... Não no sentido do gosto imediato ácido, mas propriamente à falta mesmo de açúcar de vida. Um dia que para tão somente ficar entre outros passados e os ainda filhos do devir. Penso "tê-los" como pontos-de-fuga na pintura surreal do cotidiano-trator e suas exigências de energia tão sutis quanto inutilizantes, na praxis ideal do viver, em mim. A prece é que estou com vontade de ver as letras passando pela minha vista como se eu não fosse o dono delas, e isso é a verdade. Assim como estas mal-ditas, os atos também, decerto, seguem as linhas da finitude e a escolha seria mero acaso de coincidências latentes alteradas pela nossa pretensão de dizer, falar, fazer, tudo didatismo. Deveras, o martírio de não conseguir sair de dentro, do cair de fora dos meus olhos rasgados para esta alma-abismo, é a dor.



boa semana.

frases de efeito (...)





frases de efeito que não fazem efeito
projeções do alter ego
querendo informar intelecto
além da carapaça, há largo mundo vil
quem vê
você viu?



escrita não satisfaz um ego onipotente
se despir-se de tudo
seria a melhor opção.

1.10.07

Tentação (...)







Durante um bom tempo, adotei uma postura cética quanto a este "diário"... Deixei textos como quem desdenha de si mesmo, e, no entanto, coletava alguns comentários quase nunca correspondidos. A questão agora é que me veio uma vontade de escrever, com a inocência perdida de um padre sem fé, algo apenas algo. Já tive intenções maiores, cansei. O pequeno, gosto disso. Até porque, no fundo, eu o seja.

poemeto da hora (...)





Estou parado quando me mexo, mexo-me quando estou parado...

É um monstro no qual se desenvolveu até o absurdo a faculdade que temos de extrair pensamentos de nossos atos em vez de identificar nossos atos com nossos pensamentos.