7.2.09

S.K

Soren Kierkegaard é o principal representante do irracionalismo, corrente filosófica do século 19 que criticou a supremacia da Razão – tão exaltada por Hegel. É verdade que essa corrente filosófica não faz muito sucesso em sua época, no contexto do pós-positivismo. Kierkegaard desenvolve sua filosofia, de cunho existencialista e, por assim dizer, religioso, sem rigor filosófico e desprendido de método. Sua proposta é que cada um viva sua verdade para si. Seu pensamento muito influenciará Heidegger. Kierkegaard nasceu em Copenhague em 1813, filho de protestantes fervorosos, teve educação religiosa desde cedo e aprendeu, muito piedosamente, que a fé era um valor imprescindível e uma dádiva fundamental.Kierkegaard se preocupa com a seguinte questão: como se dá à relação entre os homens e Deus? Ou, como o Homem se relaciona consigo mesmo, com o mundo e com Deus? As respostas para esses questionamentos estão na sua experiência: seus livros revelam os estágios vividos por ele: a estética, onde se entrega aos prazeres depois de se decepcionar com o sentido do pecado; a ética quando percebe que no mundo há sofrimentos interiores e exteriores que se confrontam e ao constatar que algumas normas éticas restringem a liberdade; a religiosa, quando experimenta a relação entre interior e exterior dando um salto no vazio e encontrando-se com o transcendente.É verdade que Kierkegaard apelou ao cristianismo, mais precisamente à teologia protestante, para compreender o ser do Homem. Exalta a fé e desarticula as certezas da razão. Alem disso, esse filósofo rejeita a “eternização” que as idéias de Hegel induzem-nos no campo filosófico. Segundo ele, o pensamento Abstrato deixa de fora a existência, que consiste num modo de ser do homem. Entendamos alguns conceitos fundamentais de Kierkegaard:Homem: por natureza é um desesperado. Ele é a síntese entre o finito e o infinito. É algo concreto, temporal, mas que está em devir, situado na existência. O homem não está pronto. Ele, por meio de suas escolhas, se faz a cada instante. (Heidegger: projeto projetado). Para Kierkegaard a existência e o movimento não podem ser pensados.Angústia: é uma antipatia simpatizante e, ao mesmo tempo, antipática. É um sentimento de inquietude que está presente na livre opção. Ironia: atitude crítica frente a toda conceituação ideológica. Ela é um modo de duvidar.Humor: é um estado subjetivo de quem desarticula toda justificação conceitual e chega à liberação interior intensa.Existência: Síntese do eterno e do temporal ou, como já dissemos, do finito e do infinito. É abertura que não é passível de conceituação, pois não é objeto do saber. Ela escapa ao conhecimento.Dimensões/fases da Existência Humana Estética: deleita-se na questão do prazer. A obra em que o autor trata do tema especificamente é “Diário de um Sedutor”, onde se valorizam a poesia, a estética e a arte. Kierkegaard toca no tema do prazer numa época em que há repressões e falta de conhecimento. Para ele o prazer é um produto de uma opção de vida, por isso carece qualidades estéticas, pois “sob o céu da estética tudo é leve, belo e fugitivo, mas assim que a ética entra no assunto tudo se torna duro e infinitamente fatigoso”. (Kierkegaard) Isso acontece porque a estética pressupõe admiração e sedução, por isso é difícil fazer juízo ético. Esse campo é fadigoso.Ética: trata do tema da liberdade na obra específica “O Desespero Humano”. Como é sabido, a ética se alicerça no dever, mas sabemos também que as normas impedem o ato da liberdade. Lembremos que o desespero, para Kierkegaard, é a característica fundamental do ser humano. Isso acontece porque o homem deve escolher a si mesmo, na precariedade da vida. Neste sentido, a doença mortal (pecado) é o desespero, que possui três níveis: universal, mortal, personificação.Neste item também é importante mencionar que a felicidade, para este filósofo existencialista, não se encontra no prazer. Ela é uma miragem, busca de um bem durável.Religiosa: trata da questão da fé, na obra “Temor e Tremor”. A esfera religiosa tem como mola a paixão. Paixão da fé – que possibilita ao homem tomar consciência de si – onde mora a dor e a angústia.