16.7.11

Ivan Martins me entende. hahaha !

Que bom não ter mais nada a ver com ele
IVAN MARTINS

IVAN MARTINS
É editor-executivo de ÉPOCA
Nem sempre o passado provoca nostalgia. Às vezes, dar de cara com ele só traz alívio.

O sujeito está lá, feliz com a sua vida, quando recebe pela internet a foto de uma ex de olhos siderados, copo na mão, enroscada num cara no meio da balada. Ao ver as formas e o rosto conhecido, ele instantaneamente leva a mão à boca, num gesto de susto e autocomiseração.

Mas isso dura menos de um segundo.

É tempo suficiente para ele lembrar que não tem mais nada a ver com aquilo - que aquele furacão de álcool e extravagância já não é mais da conta dele.

Com um suspiro de gratidão indefinida, ele observa a imagem na tela enquanto lembra que a moça, embora linda e arrebatadora, era uma dor de cabeça que não dói mais nele.

Quem é capaz de se identificar com essa história?

Eu sou. E acho que muitos serão.

Cada um de nós já teve experiências de convívio carregadas de ambiguidade. Você gosta da pessoa, às vezes ama, mas, junto com as coisas que você deseja ou admira nela, percebe traços de personalidade, manias ou comportamentos que são simplesmente insuportáveis. É bom livrar-se deles, embora não seja gostoso separar-se do que você ama nas pessoas.

Eu, por exemplo, não suporto gente intolerante, arrogante, belicosa. Mas já convivi com isso bem de perto, numa pessoa que tinha qualidades admiráveis. Foi traumatizante. Desde que essa relação acabou, faço questão de acordar ao lado de gente com menos certezas e pedras na mão. Tem sido bom assim.

Com as mulheres acredito que acontece o mesmo.

Uma delas me dizia outro dia como foi chegar na casa de um amigo e dar de cara com o ex- namorado embriagado se comportando como um escroto na frente da nova namorada – exatamente como fazia com ela. “Deu raiva dele, deu pena da garota, mas a alegria de estar livre daquilo foi bem maior”, me disse a amiga.

Nem sem
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Às vezes o que está errado numa pessoa é como certos barulhos no carro que vão e voltam. Algo está lá, incomodando, mas você não consegue perceber o quê, exatamente. Apenas meses ou anos depois, já na condição de amigo, ou pelo menos de ex, fica claro, repentinamente claro, qual era a origem do ruído.

Você olha para a aquela mulher encantadora e falante e percebe a crônica incapacidade dela em se mover em qualquer direção.

Ou então se dá conta da tristeza, quase depressão, que emana dela e que pairava sobre a relação de vocês como uma névoa.

Ou então nota, por trás da polidez, a insistência dela em falar de si mesma, como se ninguém mais importasse.

Ou a frequência exasperante com que ela menciona fulano, um antecessor que já era antigo ao seu tempo, mas que parece não ter sido esquecido.

Nessas ocasiões, a gente entende por que acabou, por que não deu certo, por que não tinha de ser.

O tempo ajuda a perceber sutilezas. Ele nos ajuda a ver através das pessoas e raramente o mito delas resiste a esse olhar objetivo e desapaixonado.

É bom que seja assim.

Se o seu ex era um controlador ególatra ou um quarentão indolente que precisa de mãe, é importante perceber. Ajuda a olhar para frente. Faz com que a vida ande. Permite entender que as coisas que aconteceram no passado tinham lá seus motivos. Permite olhar para a foto da ex na internet e dar uma boa gargalhada - sem o menor sentimento de perda.

(Ivan Martins escreve às quartas-feiras

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